quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A gloriosa arte de esperar


É sem dúvida, um castigo utilizar o transporte público na capital baiana. Faz lembrar todos os pecados cometidos, enquanto aguarda um coletivo. Os congestionamentos te obrigam a sair de casa mais cedo para tentar cumprir os horários dos compromissos, se isso for possível. A preferência é não ter que explicar ao chefe, mais uma vez o motivo do atraso no trabalho.

O tormento da espera foi desfeito por uma grande parcela que aderiu a moda dos financiamentos sem consultas e tudo mais. Com a bondosa ajuda do governo federal você pode parcelar o seu veículo em 60 meses e começar um pesadelo muito pior do que espremer-se até o trabalho desafiando as leis da física.
A piada pronta é o endividamento desenfreado. Os bancos emprestam muito dinheiro a juros altíssimos e as cidades sofrem, pois têm que arcar com os transtornos gerados pelo crescimento exagerado da frota nas ruas. Mas isso não vem ao caso, porque quem se irrita no transporte público, quer mesmo é ser independente.

Aos que conseguiram concretizar esse sonho, falta à paciência de esperar, mesmo no seu devido conforto. Incomodam as buzinadas dos colegas engarrafados, os motociclistas apressados, a faixa de pedestre, os semáforos e o calor. O diagnóstico está na ponta da língua do seu médico, stress.
Para evitar problemas sérios de saúde no futuro, aí vão alguns conselhos. Não reclame com a SET (Superintendência de Engenharia de Transito), nem o Prefeito, Governador, Presidente ou o Papa. Eles também devem passar por isso ou estão em algum lugar do céu, observando o caos nos seus helicópteros. A verdadeira previsão destaca, se nada de concreto for feito, o rodízio chegará a Salvador nos próximos dez anos.

O que você fará com seu carro, impossível de responder. Até lá quem sabe já tenha voltado à moda de utilizar os meios de transportes medievais para se locomover em grandes distâncias. Ou poderá também exercitar-se e deixar o seu médico feliz andando pela cidade de bicicleta.

Você realmente acredita que seu pesadelo acabará com o metrô e o novo Complexo 2 de Julho em fase de construções, esqueça! Nada será resolvido instantaneamente. Afinal de contas, esse tal de PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano) merece um novo plano de reestruturação com uma gota de carinho e compreensão dos responsáveis.

Realmente parece difícil uma mobilização. Afinal não se sabe qual o plano da prefeitura para diminuir o pesar de sair às ruas. Em contrapartida, os atuais representantes não parecem muito preocupados com a questão. As propostas dos candidatos a prefeito da cidade não pareceram maduras, viáveis, muito menos possíveis de acerto.

A diferença entre uma proposta vazia a uma viável está justamente no planejamento que resulta num transporte de massa eficiente. Isso não se consegue no “eu prometo”. Mas, com levantamento de base, projeções e simulações de cenários. A questão é que demandará muito mais de quatro anos. Não está na política de marketing adotada por nossos governantes.

É melhor apresentar ao povo um metrô que não resolverá os seus problemas, a trabalhar sério, mesmo que essa obra seja inaugurada pela administração seguinte. Ainda há muito para observar. Está na malemolência do brasileiro adaptar-se aos momentos de crise.

Dez ou vinte minutos a mais no trânsito podem significar somente um teste de paciência. Mas, podem fazer pensar mais a respeito caso você perca aquele negócio, uma entrevista de emprego ou aquela consulta médica aguardada há mais de um mês. É uma perda constante, de tempo, dinheiro, paciência e acredite muita saúde.

Hilton Coelho alfineta João Henrique e Walter Pinheiro


Nada de radical ou extremista. O jeito calmo de Hilton Coelho, ex-candidato derrotado a Prefeitura de Salvador, surpreende quem se acostumou a associá-lo ao jingle “Na capital da Resistência”. Militante do Partido Socialista Liberal, ele chegou com um sorriso no rosto e muito à vontade para conversar com os alunos do 5º semestre de jornalismo do Centro Universitário da Bahia.

Com perfil de político apaixonado, ele foi um estudante incomodado com o cenário político do país e um das caras pintadas que lutaram pela saída do presidente Collor de Mello. Nessa época era estudante do Cefet, antiga Escola Técnica, local em que começou a sua vida política.

Hilton falou da importância do partido na sua carreira, bem como os motivos que o fizeram sair: “ Para mim, passar 18 anos lá e depois perceber que não era mais uma alternativa, foi um processo muito doloroso. Saímos, porque esperávamos que o governo Lula fosse a inversão do governo Collor e ele não foi.”

Ao falar da aceitação do governo Lula, ele foi categórico, o presidente é fortemente apoiado pela mídia e mostrou sua descrença no meio: “Eu vou falar isso abertamente para vocês. Não confiem em nenhum espaço da grande mídia hoje”

Contextualizando as suas respostas com o cenário internacional, mostra o conhecimento adquirido por ser mestre em História pela Universidade Federal da Bahia e a bagagem adquirida por 16 anos de caminhada no Partido dos Trabalhadores. Ele citou exemplos do crescimento da Índia e China e, segundo ele, o Brasil deveria afirmar um posicionamento soberano em decorrência dos potenciais ambientais, minerais e ecológicos.

Pessimista com os atuais políticos no poder, Hilton afirmou não confiar em nenhum deles. Disse admirar alguns militantes que ainda estão no partido dos trabalhadores, mas que estes estão sufocados pela conjuntura do partido.

O político votou em si mesmo no segundo turno. Disse que foi vergonhoso ver Walter Pinheiro perder nos debates para João Henrique, mas era crível, pois o candidato do PT não tinha política para ganhar essas eleições.

Também não aliviou para João Henrique: “A ira de João Henrique foi porque Wagner garantiu que o PT apoiaria a sua reeleição para prefeito se ele retirasse a sua candidatura para governador. O problema da administração de João Henrique não foi a falta de verbas, e sim porque ele deixou que se aprofundasse um problema gravíssimo que se iniciou na gestão do Carlismo, que foi a iniciativa privada desviar recursos da prefeitura.”

Para o futuro, Hilton prevê uma candidatura do Psol para deputado estadual, mas garante que isso ainda são especulações. No momento ele pretende lutar para garantir a revogação do atual PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano).