sexta-feira, 15 de maio de 2009

A informatização para deficientes visuais

Sandra Andrade 11-05-2009


A rotina de Jeferson Teles durante a semana é a mesma. Faculdade, pausa para estudos e o compromisso na Associação Baiana de Cegos. Deficiente visual desde os 19 anos, ele faz parte da mínima parcela que transpôs as barreiras impostas pela cegueira através da tecnologia. Utilizando softwares de voz, Jeferson faz uso do computador e dedica suas as horas vagas para acessar a internet.

Pode parecer confuso, mas é muito simples. Os sistemas que ele utiliza para ter sua independência são o
JAWS e o DOSVOX. São softwares que fazem a leitura do que é disponibilizado na tela do computador e através de teclas de atalho é possível escolher o que se deseja fazer na máquina. Por isso não se assuste quando receber um convite de um amigo deficiente visual para entrar na sua rede de relacionamentos na web.

O uso de programas como esses possibilitam a inclusão dos cegos no mundo digital e os colocam em grau de competitividade com os demais no mercado de trabalho. Tárcis Bruno ainda é estudante, mas já compete com seus colegas de turma. Cursando o Ensino Médio com técnico em informática, usa o notebook fornecido pela escola na sala de aula.

Tárcis conta que antigamente era impossível acompanhar as aulas fazendo o uso da máquina de braile, mas com o notebook ele segue o ritmo da turma e, na maioria das vezes, digita mais rápido que os colegas pela prática com o computador, que tem desde os 12 anos.

Jeferson é professor de informática na Associação de Cegos , onde todos os associados têm noções de computação. Sua última turma foi de 22 alunos e o curso, com duração de seis meses tem trabalho individualizado, pois o nível dos alunos varia bastante. Segundo ele, os estudantes chegam motivados com a perspectiva de poder conversar pelo Messenger ou ter um perfil no Orkut. Para Teles é mais fácil convencer um deficiente visual a fazer um curso de informática a ir pra sala de aula.

Independência e privacidade

Retratos como esse são raros. A sociedade ainda está condicionada a imagem do deficiente visual que precisa de proteção ou que canta nas esquinas para ter umas esmolas no fim do dia. Durante muito tempo essa foi a realidade. Nas décadas de 60 a 80, a vida cultural de um cego resumia-se a visita de voluntários que se disponibilizavam a ler livros e revistas para passar o tempo dos deficientes em casas de repouso.

A dependência de alguém que lesse suas mensagens no celular foi o fator decisivo que levou Valnei Ferreira a comprar um aparelho caro, mas que possui compatibilidade com o programa
Talks, também leitor de voz. Ele brinca ao dizer que assim pode escolher atender ou não as chamadas no celular, visto que antes não tinham como saber quem estava ligando.

Investimento alto

No entanto, estar conectado e informado tem um custo alto para um deficiente que ganha em média um salário mínimo. Ter um notebook ou um computador é um investimento alto, mas necessário. Além disso, devem estar adaptados aos softwares.

O DOSVOX é o software mais utilizado no Brasil, é livre e foi projetado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cada usuário possui acesso ao código fonte e pode adaptá-lo às suas necessidades, como fez Tárcis adicionando pacotes de dicionário no seu programa. Aqueles que não possuem tanta afinidade com a máquina podem mandar suas sugestões para os programadores da Universidade e depois que são discutidas na comunidade, se aprovadas, são adicionadas ao programa.

Para os níveis mais avançados, o uso do JAWS é mais comum. Com ele é possível utilizar o Messenger e o Orkut. Mas a licença custa em média U$ 2 mil. Por esse motivo, Jeferson Teles ressalta que o mais importante é a baixa de preço dos produtos de tecnologia. Uma impressora braile custa, em média, R$ 28 mil, valor inacessível para uma turma que ainda está dando os primeiros passos com o uso das tecnologias.