sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O ARTISTA QUE SAIU DO BARRO - 06/11/06




Numa manhã de terça-feira, no vai vem das pessoas que lotam a Feira de São Joaquim diariamente, especificadamente na rua do artesanato, encontramos por entre as diversas peças de cerâmica da loja número quatro, um senhor sentado num banquinho de pele morena, olhos azuis, cheios de vida e com muita história para contar.

Foi desta forma que Vitorino Bertoldo Moreira, ou simplesmente o Mestre Vitorino nos recebeu. Muito simpático e já acostumado com os jornalistas, ele nos dispensou sua atenção. Avisando que é preciso escrever as perguntas, pois ele não escuta mais direito. Com 86 anos, casado, pai de seis filhos, o artesão nasceu em Maragojipinho, 2º distrito de Aratuípe – Ba, cidade conhecida pela produção de artesanato em cerâmica, e se destacou pelo seu talento. Recentemente, recebeu a Missão Honrosa da Onu, pela sua arte com a cerâmica, no Festival de Artesanato dos Países da América Latina e Caribe.

No ano de 1935, o garoto de 15 anos, saiu da cidade de Maragojipinho para conhecer a famosa Feira do Sete, em Água de Meninos. Chegando lá e habituado a trabalhar na Feira com a venda de artesanato, Vitorino teve a oportunidade de ingressar na Marinha Mercante. Mas viu seu sonho desmoronar, pois os pais não o permitiram pois ele já estava ajudando nas despesas da casa. O mestre então começa a criar peças de barro diferentes das demais.
“Eu não queria trabalhar com barro, eu queria estudar. Mas só tinha escola em Nazaré das Farinhas e a gente tinha que ir de canoa era uma hora e meia para ir e voltar todos os dias. Era muita dificuldade. Então, eu tive que trabalhar com o barro mesmo. Mas criando coisas novas. Nunca gostei de fazer o que todo mundo fazia”.
Com esse intuito, o artista levou seis meses para criar sua primeira peça, o boi-bilha. A peça é uma junção da figura do boi nordestino, com a bilha (de origem portuguesa muito utilizada para guardar cachaça). Foi pela criação desta peça que ele o prêmio da Onu. “Eu fiquei muito satisfeito de ver meu trabalho reconhecido”.

Pioneiro também, com a criação de outras peças já conhecidas, como a baiana-moringa e a cerâmica decorada de Tabatinga, bem como murais, onde as peças podem formar vários desenhos, o Mestre Vitorino fala com muito capricho e orgulho de suas obras. “Se o cliente vier aqui na minha loja e não gostar do meu trabalho é só mandar o arquiteto desenhar, que eu faço igual. É o meu desafio”.

Foi com esse pensamento que ele já fez trabalhos para hotéis como: Salvador Praia Hotel e o Catarina Paraguaçu. Têm suas obras espalhadas pelos quatro cantos do Brasil, e viajou também aqui e no exterior, divulgando seu trabalho, sendo assim referência no que faz. O Mestre também foi vereador e presidente da Câmara dos Vereadores de Maragojipinho durante 10 anos, e diz ter saído por não possuir vocação com a política. Mas está sempre presente na cidade, pois é o local onde escolheu para criar as suas obras.

O artesão pretende parar um breve, pois o próprio corpo hoje já não permite que ele faça peças muito grandes, mas já deixou a olaria que possui sobre os cuidados do seu filho Guilherme. Por fim, nos deixa um recado que o guiou durante sua vida: “Ninguém aprende sonhando ou na ilusão. É estudando, trabalhando e pelejando” diz assim a experiência do grande artista.

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